# 1 Diário de Bordo

Ontem fui uma heroína... não descobri a cura do cancro, nem a vacina contra a SIDA, não consegui a paz no mundo, nem encontrei a solução para a crise, não fiz nada digno de registo nos livros de história... simplesmente dei sangue. Faço-o há muitos anos, por vezes fico impedida de o fazer. Tenho um pequeno problema de peso, chegar aos 50 kg é complicado e já estive de resguardo devido a uma intervenção cirúrgica e desde Dezembro que a guerra foi à anemia e ao peso que não dava para aventuras, portanto, ontem quando vi os valores da hemoglobina fiquei feliz, foram mais de seis meses de turras com uma anemia teimosa que não ia embora. Nem sempre dar sangue foi livre de complicações para mim, por vezes corre mal, uma vez correu muito mal mesmo mas voltei sempre. Volto, porque neste pequeno nada pode estar a diferença, é com muitos nadas juntos que se faz um todo, o todo de salvar vidas. Posso dar plaquetas outra vez, está uma dádiva agendada. A aférese, não dói; dar sangue simplesmente, não dói (quer dizer, não gosto de agulhas a mim dói-me quando me espetam a dita cuja mas não sejamos mariquinhas); ser doador de medula óssea, não dói. A estas doações acrescento a de doadora de órgãos. Faço-o porque sei o que é ver alguém morrer à espera de um órgão e porque conheço bem os dramas hospitalares quando falham as dádivas de sangue. Por isto e por muito mais sempre que posso sou uma heroína... uma heroína de um pequeno nada... mas muitos pequenos nadas salvam vidas. SEJAM HERÓIS!