"Tenho
às vezes saudades do futuro,
Como se ele já fora decorrido...
Um
sentimento escuro
De quem, antes da vida, houvesse já vivido..."
Cantos
Indecisos, Teixeira de Pascoaes
Tenho muitas vezes na vida saudades do futuro, saudades incomensuráveis. Quando o passado é
interdito, o presente suspenso, resta-nos reescrever o futuro. Por isso, tenho saudades do futuro. O meu outro lado do espelho, o lado escondido, oculto, aquele que não se vê nos sorrisos, espera o futuro. Irei errar, irei cair, uma e outra vez, irei pedir desculpa e aprender com os erros mas acima de tudo irei olhar para a vida de frente, sempre olhei, morrerei a tentar, não sei desistir. Sei que o meu mundo se vai estilhaçar uma e outra vez e que um dia não vai haver mais solução para tanto estilhaço. Sei que vou ter que acordar para manhãs que não quero viver, sei que vou perder, sei que um dia o caos vai vencer. A vida ensinou-me a morte mas não me permitiu as lágrimas. Não gosto de despedidas, prefiro um até logo, disse adeus uma vez na vida, se pudesse voltar atrás desdizia-o. Por vezes vejo o futuro, vislumbro-o no crepúsculo dos dias, na hora mágica. Tenho saudades do futuro mesmo que ele não se cumpra, mesmo que amanhã me pare o coração, que a vida se suspenda em mim. Hoje, amanhã e sempre terei saudades do futuro, do futuro que deixa os sonhos serem sonhos. Sonhos cumpridos.